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NO UM HA SEMPRE DOIS

O BELO NÃO É SÓ BELO, TEM DOIS LADOS, DOIS TONS

A marca desta série de trabalhos e sua pesquisa propõe o questionamento da própria linguagem e sua leitura. O reprocessamento da linguagem do Expressionismo Abstrato visa a produção do enigma e não da visão pronta do mundo, num retorno à tradição enquanto crítica de si mesmo.

Sua estética não significa o fim, mas um meio à disposição da liberdade de ação, que ao se apropriar das técnicas e dos suportes tradicionais questionam o próprio visível. Busca o diálogo formados pelas sobreposições de camadas de tintas, cujo o impacto pictório espelha mais que materiais e idéias, mas a forma como as duas coisas se relacionam.

É muito mais uma questão de ética do que de estilo.

"Horizonte de Sentido"

2009 Acrílico sobre Tela ( 170x50)

Em nosso horizonte histórico de sentido o desejo sugere mais desejo e realizá-lo seria o crepúsculo do sujeito contemporâneo, descentrado, sem horizontes e melancólico. Indivíduos perdidos nas solicitações sociais, se entregam ao presente e ao prazer, ao consumo e ao individualismo, à ausência de valores e de sentido para a vida.

"Des-pretensa hegemonia"

2009 Acrílico sobre Tela (140x90)

A mistura de pinceladas marcadas com a tinta escorrida reflete a atitude de dizer sim e não simultaneamente às solicitações do mundo, utilizando os objetos técnicos normalmente, mas também permanecendo livre deles, impedindo de ser absorvida por eles. Desprovida de uma pretensa hegemonia, a tinta escorrida anuncia os acontecimentos imprevisíveis que nos vêem ao encontro e nos colocam diante da impossibilidade de controle absoluto.

"Malhas Tecnológicas"

2009 Acrílico sobre Tela (170x50)

O que vem acontecendo no contemporâneo é, justamente, uma tendência ao aprisionamento total da vida nas malhas da tecnologia na qual predomina a crença de que somente a ciência proporciona a verdade objetiva que salva todos os males.

"Um caminho único"

2008 Acrílico sobre Tela (170x50)


Numa relação dialética, presos sob barreiras transparentes, limites sociais das grandes cidades, assistimos ao mundo aonde a arte de acumular é mais importante do que a arte de viver. Estabeleceu-se o sentido usual que concebe métodos seguros de intervenção rumo a um único ponto de chegada, uma única possibilidade. Protegidos dentro desse grande aquário, modelamos nossa sensibilidade por imagens sedutoras que exageram nossas expectativas. Sem reflexão, somos levados a crer que existe felicidade todos os dias, que devemos comprar tudo o que podemos, que devemos ter sucesso - como se sucesso não tivesse significados individuais e que devemos fazer as coisas do jeito certo - como se houvesse um jeito certo, "um caminho único" para se alcançar a felicidade.

"Distinta geometria"

2008 Acrílico sobre Tela (1x1.50)


Entre nós e o mundo no ambiente contemporâneo estão os meios tecnológicos de comunicação, ou melhor, de simulação. Eles não nos informam o mundo; o refazem, "hiper-realizam" o mundo, transformando-o num grande espetáculo. Na era do tratamento computadorizado do conhecimento e da informação, lidamos cotidianamente com o esvaziamento do antagônico entre o real e a ficção, logo a reprodução, ou melhor, a ficção se dá a tal ponto que o que era naturalmente oposto perde sentido e, na busca da reprodução perfeita da realidade, acabamos preferindo a imagem ao original, a cópia ao objeto. A reprodução perfeita da realidade se torna tão mais interessante, que a própria realidade parece incapaz de brilhar por ter se perdido no imaginário do que deveria ser. Mas nunca será, pois o simulacro "hiper-realizado" amplifica, satura e exagera nossas expectativas."Esvaziamento do antagônico"2008 Acrílico sobre Tela (170x50)

"Determinações do impessoal"

2008 Acrílico sobre Tela (1x1) (1x1)


A mistura de pinceladas marcadas com a tinta escorrida nada mais é do que a atitude de dizer sim e não simultaneamente em relação ao mundo, utilizando os objetos técnicos normalmente, mas também permanecendo livre deles, impedindo de ser absorvida por eles. Desprovida de uma pretensa hegemonia, a escolha de pontuar com o magenta uma forma no canto esquerdo da segunda tela anuncia os acontecimentos imprevisíveis que nos vêem ao encontro e por estarmos subjulgados por nossa incapacidade de meditar acerca das determinações do impessoal ou mesmo o "deixar ser" em relação ao mundo, formam ferimentos inevitáveis diante da impossibilidade de controle absoluto."

"Efêmero"

2008 Acrílico sobre Tela (140x90)


A submissão a um bombardeio maciço e aleatório de informações parceladas, que nunca formam um todo, mas com importantes efeitos culturais, sociais e políticos, faz da vida um show constante de estímulos desconexos. A todo instante é oferecida uma ampla variedade de mercadorias, visando arrebanhar para o consumo personalizado que, mesmo gigantesco e diferenciado, não forma um todo e não possui centro. Efêmero, por excelência, o consumo absorve qualquer costume ou idéia, revolucionária ou alternativa, pois é flexível e variado o suficiente para nele conviverem os comportamentos e as idéias mais díspares.

"Aglomerado de desejos"

2008 Acrílico sobre 2 Telas 80x60 (120x80)


Entender o distanciamento enquanto constitutivo da sociedade contemporânea implica em compreender o profundo desenraizamento sofrido na modernidade. A medida em que respondemos às solicitudes que nos convocam a estabelecer uma relação utilitarista com tudo que nos cerca, apartados das experiências coletivas, afastados dos laços que antes nos uniam às tradições, passamos a viver sob o domínio de "nosso" aglomerado de desejos.

"Câncer invasivo"

2008 Acrílico sobre Tela (80x60)


A total falta de reflexão e tematização acerca da impossibilidade de controle absoluto das condições da nossa existência, gera uma vida vazia, aberta a doença viva do amarelo podre que se alastra pelo sangue da rotina habitual, a tudo requisitando como fundo disponível para consumo, controle e segurança. Sem o exercício de liberdade de uma existência autêntica, entregue ao presente, ao prazer e ao consumo, a perturbação da doença anuncia o "mundo" como "estando em jogo", entretanto, enquanto embaraçados nos laços da própria ilusão, sem assumir nossa existência, nem aceitar nossa temporalidade, continuaremos a seguir impossibilitados de fazer uma escolha consciente e responsável.

"A presença da ausência"

2004 Acrílico sobre Tela ( 60x60 )


A busca por segurança e controle inclusive nos relacionamentos afetivos que se tornaram reserva disponível para uso, evidencia a presença da ausência. Ausência que traz a sensação de "aperto no peito" de angústia e de inadequação social. Relacionamentos amorosos de um único elemento que se multiplica através do reflexo contido, o outro é "algo", um objeto a serviço das aspirações de controle, que visa assegura-se da permanência desse outro para apagar sua sensação de "vazio", mas que acaba fomentando nada além do que a própria sensação de solidão. A composição faz tendenciosamente uma reapropriação dos relacionamentos amorosos que, seja pelo ciúme, pela tentativa de exercer o controle, pelo temor da traição e ou abandono, têm como pano de fundo a solidão e a disponibilização do outro para aplacá-la.

"Experiência amorosa"

2003 Acrílico sobre Tela 90x90


Produtos prontos para uso imediato proporcionam prazeres passageiros e satisfações instantâneas. Instigam construir a "experiência amorosa" à semelhança dessas outras mercadorias que fascinam e seduzem, prometem desejo sem ansiedade, esforço sem suor e resultado sem esforço. Fomentam receitas testadas com resultados que não exigem esforços prolongados, "garantias de seguro total ou a devolução do dinheiro", tornam a promessa de aprender a arte de amar uma oferta falsa, enganosa, mas que se deseja ardentemente que seja verdadeira.

"Pensamento meditante"

2006 Acrílico sobre Tela (90x70)


O verbo meditar, do latim meditare, freqüentativo de medéri, significa pensar, medir, tratar (um doente), relacionado com medicus. Pensar, do latim pensare, tem como um dos significados curar, tomar conta, cuidar, de onde a expressão "pensar feridas". Assim, o pensar propiciado pelo pensamento meditante poderá ir além de uma simples atividade mental do sujeito, a atividade julgadora, classificadora e comparadora da faculdade racional, para constituir-se em um caminho capaz de curar. Esse "curar" é o campo de liberdade que nos é possível, não uma liberdade absoluta de um sujeito que escolhe o seu destino, mas a do homem que se abre a outras possibilidades de interpelação frente ao que o encontra.

"A Beleza do ser para-a-morte"

2007 Acrílico sobre 4 Telas 60x60 (120x120)

As formas coloridas e descontroladas criam e recriam concepções sobre a vida em seu sentido mais próprio. 4 telas compõem as primeiras camadas de movimento, realocadas se reencontram e formam novas camadas de elementos compondo nova ordem fluida, liberta para outras possibilidades de interpelação frente ao que o encontra. Formas livres garantem o acesso ao modo de ser mais essencial, como o ser para-a-morte, a vida que se fecunda e se alimenta da morte, perpetua-se, livre da angústia de não ser impessoal e inautêntica.

A reapropriação da realidade das grandes cidades

A reapropriação da realidade das grandes cidades, compostas por linhas paradoxais, retas tortuosas, trôpegas, de distinta geometria que se cruzam em esquinas cheias de ângulos que engolem e são engolidas, sufocam padronagems de cores opacas, formam um amontoado morno e saturado de sentidos tal qual os indivíduos perdidos nas solicitações sociais.


Reflete o hedonismo contemporâneo, padronizado, sem horizontes e melancólico, a entrega ao presente e ao prazer, ao consumo que não sugere realização, sugere mais desejo e a ausência de valores e de sentido para a vida.

Submersos sob uma infinidade de artifícios que dão a ilusão de controle absoluto sobre tudo e todos, tentamos desesperadamente nos agarrar mais e mais à ilusão voluntarista de controle e segurança da realidade.

Pensar e meditar acerca dos acontecimentos imprevisíveis e ferimentos inevitáveis permite revelar outras possibilidades, que não apenas representações dadas a priori pelas determinações do impessoal. Em lugar de tentar bloquear a emergência dos sentidos singulares que se desvelam, permite uma apropriação temática da experiência.

As linhas que escorrem seguindo uma imprevisibilidade contida faz uma reflexão e tematização acerca da impossibilidade de controle absoluto das condições da existência do homem. Repelindo esse lugar de controle e asseguramento absolutos, permitindo-se pensar a possibilidade da entrega, "deixar ser" em relação ao mundo.